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terça-feira, 12 de março de 2024

O Livro das Sombras: Origens


O termo "Livro das Sombras" (frequentemente abreviado para BOS, do inglês Book of Shadows) é bastante evocativo, mas o que ele significa e de onde vem? O Livro das Sombras é o documento central da tradição Wicca. Ele contém os principais rituais da tradição, incluindo as cerimônias de iniciação e dos festivais sazonais, assim como informações sobre outras práticas significativas.

Cada iniciado copia à mão o Livro das Sombras de seu iniciador e jura não compartilhá-lo fora da tradição. Desta forma, os rituais e técnicas centrais são preservados e perpetuados ao longo da linha iniciática. Além disso, cada iniciado pode acrescentar e desenvolver o material dentro de seu Livro das Sombras à medida que progride em conhecimento, experiência e compreensão. O resultado disso é que diferentes linhagens iniciáticas podem possuir Livros das Sombras ligeiramente diferentes, com um núcleo idêntico e variações únicas. Esse princípio é elucidado pelo autor e bruxo Frederic Lamond em seu livro Cinquenta Anos de Wicca, quando ele relata ter ouvido de Gerald Gardner que:

“O Livro das Sombras não é uma Bíblia ou Alcorão. É um livro de receitas pessoal de feitiços que funcionaram para o proprietário.”

Essa prática de preservar uma tradição através da cópia manual do material tem paralelos em tradições mágicas anteriores. Um dos primeiros livros da tradição dos grimórios, o Liber Juratus ou O Grimório do Papa Honorio do século XIII/XIV, dava instruções em seu prólogo para a preservação de seu conhecimento através da cópia de seu conteúdo:

"e, portanto, sendo um pouco comovidos, fizemos este juramento entre nós: primeiro, que este livro não deveria ser entregue a nenhum homem até o momento em que o mestre da arte estivesse em perigo de morte, e que deveria ser copiado para no máximo três."

O Liber Juratus foi essencialmente o primeiro Liber Spirituum ("Livro dos Espíritos") da tradição do grimório, sendo um livro mágico de prática. Muitos dos grimórios subsequentes nos séculos seguintes dariam detalhes de como fazer e consagrar um Liber Spirituum. A Chave de Salomão chegou a detalhar a natureza de seu conteúdo, sendo "as orações para todas as operações, os Nomes dos Anjos na forma de Litanias, seus selos e Caracteres".


Muitos séculos antes, no antigo Egito, havia livros de feitiços e cerimônias zelosamente guardados pelo sacerdócio. Esses livros, como O Livro da Vaca Celestial, (à semelhança do Livro dos Mortos, não era um livro no sentido moderno da palavra, mas antes um conjunto de histórias. Foi inscrito em neo-egípcio nas paredes de túmulos de faraós situados no Vale dos Reis: Tutancâmon, Seti I, Ramessés II, Ramessés III e Ramessés VI) nunca eram mostrados a ninguém fora do sacerdócio, para que os não-iniciados não profanassem a magia contida neles e a tornassem ineficaz. No entanto, a primeira referência específica a um "livro de bruxa" pode ser vista nos escritos do poeta romano Horácio, registrados em suas Épodes em 30 AEC, a partir de seu diálogo com a bruxa Canídia:

"E pela inflexível divindade de Diana, e pelos livros de encantamentos capazes de fazer cair as estrelas deslocadas do firmamento"

O geógrafo grego Pausânias também registrou o uso de um livro mágico em seu Guia da Grécia do século II. Ele se referiu a um mago fazendo madeira seca pegar fogo depois que ele, "em sua língua nativa cantou hinos e pronunciou certas palavras bárbaras, de um livro que segurava na mão."

A origem do nome "Livro das Sombras" parece ser contemporânea ao romance de Gardner, Auxílio da Alta Magia. Uma cópia da revista The Occult Observer de 1949 continha o termo "Livro das Sombras" em um artigo do quiromante Mir Bashir sobre um antigo manual de adivinhação sânscrito com o mesmo nome. Significativamente, The Occult Observer foi publicado por Michael Houghton, o então proprietário da Livraria Atlantis em Bloomsbury, Londres, que também publicou Auxílio da Alta Magia de Gerald Gardner no mesmo ano sob o selo editorial da Neptune Press.

Usos anteriores da frase ocorrem, embora as únicas ocorrências esotéricas sejam em obras cristãs que claramente não estão relacionadas à tradição Wicca, como esta referência de alguns anos antes, em 1942:

"De acordo com Charles Wesley, o Antigo Testamento é um livro de sombras, do qual Jesus é a substância."

Em sua autobiografia, Alta Sacerdotisa, Patricia Crowther refere-se ao Livro das Sombras como sendo também chamado de Livro Negro. Esta é uma observação interessante, pois Gardner tinha uma cópia manuscrita do Grimório de Honorius em sua coleção, que era alternativamente conhecido como o Livro Negro. O Grimório de Honorius é essencialmente um livro de feitiços com técnicas para formar círculos

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